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Wednesday, June 11, 2008

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Completo

Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.

Manoel de Barros

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Dizendo adeus

Estou sempre dando adeus:
também ao desencontro e ao
desencanto.

Estou sempre me despedindo
do ponto de partida que me lança de si,
do porto de chegada que nunca é
aqui.

Estou sempre dizendo adeus:
até a Deus,
para o reencontrar em outra esquina
de adeuses.

Estarei sempre de partida,
até o momento de sermos deuses
quando me fizeres dar adeus à solidão
e à sombra.


______________Lya Luft


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