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Thursday, December 13, 2007

ANO NOVO, VELHOS VENENOS...

BAR
Haverá ainda pequenos bares vagabundos
Com carnes de Extremo-Oriente
Para abrigar o ano novo.
Pequenos bares com marinheiros lendários
Cujos cachimbos consumirão antigos venenos
Bares leves inflados de fumaças
Pequenos bares evanescentes à claridade da aurora.
Bares onde o sol e seu trajeto brilham
Na profunda laca avermelhada das taças;
Bares repletos da animação das mesas,
e vidraças mortas
Onde estudantes não meterão o nariz.
Pois haverá outros venenos a corroer
A Árvore Viva de nossas fibras prestes a eclodir,
Há vinhos não secretados por vinhas terrestres
Tão violentos quanto catástrofes.
Salve, ó bar, que nos fornece venenos
E misérias, e dores e sustos
Lançando-nos na nudez de nossas almas
Em cais inacessíveis aos tormentos.
Um silêncio te guarda e nos protege
Silêncio onde não vem se perder a medicina,
Um silêncio que nos cura na morfina
Sem receitas, nem decretos.
ANTONIN ARTAUD

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