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Monday, January 29, 2007

A VIDA É QUE NOS VIVE
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“ A vida humana
- na verdade toda a vida -
É poesia.

Nós a vivemos inconscientemente,
dia a dia,
fragmento a fragmento,
mas na sua totalidade
inviolável,
Ela é que nos vive! ”

Lou Andreas-Salomé


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Florbela Espanca
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Frémito do meu corpo...

Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,

Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!

E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas...

E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas.

.
Por que indagas de poesia
.


eu falo em antropofagia
e tu devoras meus dedos
molha-os de beijos largos.

por que indagas de poesia?
a luz do sol cai em gotas
na cozinha ainda enfeitada de nós duas

ah estas taças de vinho tinto...
e nossos rostos se avizinham:
tua língua lambuza a minha.

eu me assusto? Sim. Meu amor.
tu argumentas: que há de errado?
que sei eu de tão formoso...?

teus cabelos tecem fios com os meus....
eu não distingo mais tua face:
...a tua antropofagia.

mas ao inverso do que eu dizia
seguras em mim – traço peculiar
em minha alma encantada
por ti

Safo.

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