Pages

Monday, January 29, 2007

Vinicius
.



O Velho e a Flor

Por céus e mares eu andei
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber o que é o amor
Ninguém sabia me dizer
E eu já queria até morrer
Quando um velhinho com uma flor assim falou.

O amor é o carinho
É o espinho que não se vê em cada flor
É a vida quando
Chega sangrando
Aberta em pétalas de amor.



.

Antigos venenos...
BAR
Haverá ainda pequenos bares vagabundos
Com carnes de Extremo-Oriente
Para abrigar o ano novo.

Pequenos bares com marinheiros lendários
Cujos cachimbos consumirão antigos venenos
Bares leves inflados de fumaças
Pequenos bares evanescentes à claridade da aurora.

Bares onde o sol e seu trajeto brilham
Na profunda laca avermelhada das taças;
Bares repletos da animação das mesas, e vidraças mortas
Onde estudantes não meterão o nariz.

Pois haverá outros venenos a corroer
A Árvore Viva de nossas fibras prestes a eclodir,
Há vinhos não secretados por vinhas terrestres
Tão violentos quanto catástrofes.

Salve, ó bar, que nos fornece venenos
E misérias, e dores e sustos
Lançando-nos na nudez de nossas almas
Em cais inacessíveis aos tormentos.

Um silêncio te guarda e nos protege
Silêncio onde não vem se perder a medicina,
Um silêncio que nos cura na morfina
Sem receitas, nem decretos.

ANTONIN ARTAUD

.

Tudo passa
.

In passim

"Tudo vai-se acabando, tudo passa
do que é ao que era; é tudo mais
ou menos uns vestígios de fumaça
no espaço do que deixas para trás.

E tudo o que deixaste ou deixarás
de manso ou de repente, sem que faça
diferença nenhuma no fugaz,
é assim como a garoa na vidraça:

intimações de lágrima delida.
Não valeu chorar nada. Nem te atrevas
a lamentar-te à porta da saída,

pois pouco importa a vida como a levas,
que ela te leva a ti, de despedida
em despedida, a uma lição de trevas".


.

No comments: